Rei Edward
História de Moacir Sader

Circundado por infindáveis arbustos de pouco mais de um metro, que se perdiam no gigantesco vale, sem fim aos olhos humanos, encontra-se o castelo do Rei Edward. A natureza ao redor resplandece de beleza, a terra fértil presenteia vegetação deslumbrante aos humanos. Um rio de águas cristalinas, com fundo translúcido na cor amarelada pelas pedras e areia, completa o deslumbramento visual daquele recanto da Inglaterra, na idade média.

O castelo fora construído por enormes pedras fixadas por um tipo de barro meio rosado. As paredes rústicas, intensamente iluminadas por tochas, queimando dia e noite, desfazendo a escuridão das dependências internas, que bloqueiam a luminosidade do sol, dando o toque de caverna ao castelo.

O jovem rei Edward, com apenas 25 anos, alto, cabelos louros com vertente para ruivo, olhos verdes, porte atlético e excelente guerreiro, com sua espada imbatível, mais que respeitado, é amado pelos súditos por sua bondade e justiça coletiva.

Casado com a rainha Emily, por conveniências familiares, não se sente feliz, pois sua esposa, muito diferente dele, é inteiramente egocêntrica. Com seus 22 anos, tez clara, bem loura, olhos castanhos, veste-se sempre de modo elegante e com belas jóias. Por ser desprovida de sentimentos nobres, acabou estimulando o desencanto do rei e a distância que passou a existir entre eles.

Numa de suas incursões do rei com seus soldados, ele encontrou em terras distantes uma jovem nativa e se apaixonou por ela por sua beleza exuberante e pela bondade resplandecente de seu olhar. Eada possui pele bem morena, dourada pelo sol, estatura média, olhos castanhos, cabelos bem escuros, lisos e com fascinante brilho.Trajando uma roupa comum de sua tribo, saia curta e pequena faixa cobrindo seus seios, evidenciando a perfeita silhueta de seu corpo de apenas dezoito anos, tocou o coração do rei Edward de modo definitivo.

O amor nascido de pronto entre o rei e a nativa estimulou a decisão de Edward de levar Eada consigo para morar no castelo. Instalada em um dos aposentos, tornou-a seu amor verdadeiro, fazendo do tempo em comum, momentos de puro carinho.

Eada não fala inglês, conhece apenas sua linguagem tribal, mas comunica com o rei de modo muito especial, pelos olhos, expressando sempre muito carinho e amor. Para a nativa, a felicidade passou a significar a presença de seu rei, de seu amor e do puro encanto vivido entre eles. A cada viagem de Edward, ela se apega à espera e ao momento de abraçar novamente o seu rei amado. Ao retornar, Edward corre para rever sua amada, com o coração batendo fortemente.

Deste amor especial, nasceu um lindo menino, Victor, que com seus nove meses, está belíssimo, forte, pele clara e cabelos dourados do pai e olhos cor de mel, da mãe. A vida para Eada passou a significar a intensa dedicação a seu querido filho, quase que exclusivamente, e ao amor grandioso a Edward.

Toda esta situação afetou bastante o humor da rainha, que agora exerce apenas sua posição política, vez que não mais existe ligação amorosa com o rei. Sente-se profundamente ferida em seu orgulho.

Edward acordou inquieto, seu espírito pressente algo no ar, alguma coisa errada está acontecendo no seu reino, sua intuição acena vivamente. Lá fora, o sol brilha intensamente. Olhou pela janela de seu aposento a imensa planície verde e bela e pensa no sol brilhando também em seu coração. Nunca fora tão feliz como naqueles tempos, pois havia encontrado o amor especial para o seu coração, até então adormecido por seus compromissos de líder e por um casamento sem amor.

Por não permitir injustiças em seu reinado e por não cometê-las, Edward vivia em paz consigo, sentindo a energia coletiva de amor de seu povo. Mas por que esta sensação estranha agora? Questiona consigo. Notou então que a rainha está ainda mais estranha, dissimulada, evidenciando que escondia algo. Sente que certamente terá de colocar em prática todos os seus conhecimentos e força de combatente. Mas contra quem, se o seu reino não se encontra em guerra?

Desceu a longa escadaria interna e foi ao aposento de Eada. Ela lhe sorri largamente e com os olhos, jura amá-lo intensamente. Edward abraço sua amada, dizendo com o gesto que, além de seu grande amor, iria também protegê-la para sempre. Suspendeu Victor com seus dois braços e olhando com muito carinho para o filho, disse-lhe: você será o futuro rei. Beija longamente Eada, entregando-se a todas as carícias próprias de um grande amor.

Articulado pela rainha, alguns soldados de sua confiança organizaram uma revolução com o objetivo de assassinar o rei, sua amante e o filho herdeiro do trono.

Fomentadas pela forte intuição de Edward, todas as cenas das discussões com a rainha lhe vêm à mente, entendendo claramente o pensamento e o desejo dela. Edward empunhou sua espada e seguido por seus fiéis escudeiros comandou de frente a luta contra os traidores. Da janela de seu quarto, Eada vislumbra os pés de seu rei batendo firme no chão encharcado pela chuva, espalhando água ao redor, numa noite de inverno e neblina. Todos os traidores foram subjugados e presos. Por seu coração bondoso, Edward não condenou a rainha à morte, como seria o costume, por seu alto grau de traição, mas a devolveu para a residência de seus pais, o que não deixou de ser castigo e desonra.

Letícia acorda pela manhã de seu estranho e incrível sonho, lembrando de todos os detalhes, recordando-se ter vivido todas aquelas emoções no corpo da nativa Eada em outros tempos, nas longínquas terras da Inglaterra. Também reconheceu o seu marido, como sendo o rei Edward, vez que os olhares dos dois são incrivelmente idênticos, assim como a mesma bondade e o mesmo desejo de protegê-la.

Refletindo sobre a personagem que representou em terras inglesas, Letícia conclui que várias características de sua personalidade se mantêm ainda nesta encarnação, entre elas a sua intensa dedicação aos filhos, ao seu marido e o forte desejo de morar em sítio e viver novamente em contato com a natureza.

As cenas da história passada em outro século foram resultados de regressão de memória acontecida com Letícia. Ela reconheceu que o amor de seu marido se manteve fiel com o tempo, a mesma dedicação, o mesmo desejo de proteção, o mesmo olhar de amor e bondade. Ela reconheceu a origem de seu amor pela natureza, de sua vontade de viver novamente no interior em contato com o verde natural.

Devemos ficar atentos ao olhar, pois este é o reflexo da alma e a melhor maneira de reconhecer um espírito amigo em outro corpo. Uma vez ligados pelo amor, os espíritos se reencontram para o abraço de sentimento verdadeiro.


Luz, amor e conhecimento.

Moacir Sader
Mestre de Reiki Usui, Karuna e da Chama Violeta